Crítica do Espetáculo “Chá das Oito” apresentado pelo Coletivo do Chá - UNESP
CRÍTICA ESPETÁCULO "CHÁ DAS OITO" IX ETU
Por Nathan
9/3/20254 min read


O espetáculo começa com as atrizes usando máscaras de gás em posições que lembram estátuas, em gestus com as personagens que elas iam interpretar, visto que as próprias personagens (e outros que irão aparecer) são modelos intencionalmente baseados em “tipos” que serão revisados e (auto)criticados com um humor sensacional no decorrer da peça. Sinto que o símbolo tenha ficado um pouco perdido pela sua presença somente no começo e no final, mas se nos afastarmos um pouco e visualizarmos os assuntos tratados, é possível de entendimento o uso da máscara como uma preparação tanto das atrizes quanto dos espectadores que será colocado outro mundo, muito próximo do nosso, em que será possível a conversação aberta, humorada e densa sobre tópicos que emitem uma “toxicidade” em seus discursos. E os temas são bastante abrangentes, mas com a especificidade de falar sobre as experiências tragicômicas de tipos do gênero feminino em si, mas também em relação aos tipos/estereótipos masculinos , também interpretada pelas atrizes com auxílio primordial de um bigode, paletó e mudança na atuação.
Os próprios nomes das personagens principais revela essa atitude da dramaturgia de tratar de estereótipos criados por um pensar patriarcal masculino, em sua própria criação e criticar a partir disso: Vagabunda, Louca, Gostosa-Burra, Largada, Histérica, Rodada, Emocionada e a (Outra). Todos nomes colocados em jogo durante a peça para a crítica com humor ácido para o público. Quanto aos nomes dos personagens fugazes masculinos, são utilizados os nomes das pessoas que foram escritas no pedaço de papel, que se identificam com o gênero masculino, e utilizadas toda vez que aparecia uma personagem masculina a ser colocada no espetáculo. A intenção é explícita e convém a mensagem durante o espetáculo sobre, assim como a partir de 7 tipos/estereótipos personagens todas as mulheres são englobadas, a crítica é feita em revés para os tipos/estereótipos masculinos, englobando que qualquer homem pode fazer as ações narradas e interpretadas na peça, ao fazer uso de nomes comuns presentes na plateia. Estabelecido isso, a partir da concepção que sou uma pessoa não binaria, questiono a colocação dos nomes no pedaço de papel, tendo em vista que o tipo de masculinidade retratada (cis, heteronormativa) convém no uso de nomes de pessoas que possuem outros tipos de masculinidades envolvidas, em destaque às pessoas transmasculinas participantes na plateia.
Entrando mais a fundo sobre a apresentação, tenho que elogiar a disposição e o jogo entre as atrizes nesse espetáculo. Era perceptível que havia divertimento durante a atuação, tanto nas partes absurdas do projeto em que várias piadas de duplo sentido, momentos com Camp (um cafona intencional) era colocado para tratar dos temas colocados em suas absurdidades mais rotineiras; e também como era mudado a chave de atuação para abarcar os momentos de densidade. Os temas de feminicídio, violência contra mulher e racismo (dentre outros), são tratados nessas chaves de atuação. Uma montanha russa entre leve e pesado que vai sendo usado em conjunto com o trabalho da iluminação, e principalmente da projeção, que teve papel fundamental em trazer a realidade “absurda” do espetáculo, para a nossa realidade. Uma brincadeira entre o real e irreal e a comprovação que o mundo que nós vivemos sempre pode ser mais caótico do que imaginamos. Digo aqui da cena dos comentários sobre a compra da boneca e a cena com as luzes apagadas.


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O que posso colocar para o grupo em específico é sobre o questionamento da duração da Sátira em Três Atos. Coloco isso tendo consideração da importância da obra e dos temas tratados, mas que não é impassível de percepção que, sob meu olhar externo, foram muitos os temas e cenas que o grupo quis abarcar no espetáculo e que, no intento de colocar todas elas (pois sim, elas carregam sua importância), o espetáculo acaba se tornando “longo” demais. Nisso, fica a sensação que algumas cenas que pediam mais aprofundamento, não puderam ser aprofundadas; e as cenas que pediam o cume do exagero, não puderam ser exageradas, para que outras cenas também (no mesmo teor), pudessem ser colocadas no espetáculo. Então, deixo a pergunta do como e do por que das escolhas das cenas que estão no espetáculo serem necessárias para o espetáculo da maneira que elas estão? E, se possível, a conversação de cenas que podem abarcar o mesmo tema e aprofundar mais na proposição envolvida não podem de alguma maneira serem trabalhadas para o enfoque ser na experiência a ser criada? É um espetáculo potente e forte e, por isso, acho interessante que essa densidade e tensão sejam também colocadas nas escolhas para torná-lo o mais tenso e potente possível
Finalizo aqui denotando a escolha das cores de figurino para cada tipo/estereótipo das personagens que jogavam a favor das personagens e diferenciações de personalidade; do jogo com o contrarregra que participou das cenas sempre saindo do mesmo lado do palco; e também das performances de dança que foram realizadas no decorrer das peças e das músicas escolhidas, mas transpassar essa passagem de tempo e transmutação do palco com a mudança da cenografia e de figurino à todo momento (lembrando a festa do chá de Alice no País das Maravilhas e a Santa Ceia).
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